Tem dias em que a gente acorda atrasada, perde o ônibus, esquece a
carteira em casa, erram nosso pedido na padaria, estamos horríveis e
encontramos desconhecidos na rua, enviamos os arquivos errados, brigamos com as
pessoas e temos medo de atender ao telefone porque, num dia desses, qualquer
pessoa ligando só pode ser pra avisar que alguém morreu. Não há reza, café ou
descanso que nos ajude a sair daquela miséria, daquela maldição que nos parece
imposta por uma força maior pra nos lembrar de que a vida é assim mesmo e não
adianta querer achar que você está por cima.
Mas há dias, e há dias.
Tem dias em que a gente fica até às quatro da manhã cozinhando por um bom motivo, e, por mais que tudo possa dar errado, dá certo. Em que um colega de trabalho te para no caminho da padaria para conversar sobre literatura, e você se encanta com como há pessoas interessantes por aí. Em que uma peça de teatro, depois de um dia cansativo e com você morrendo de sono, não te faz dormir – te faz mais completa. Tem dias em que tudo é bom, por mais que pudesse ser ruim. E não é que não aconteçam desgraças. Mas, de espírito leve, nenhum imprevisto consegue te tirar do sério.
Não há motivo particular pra isso: é como acordar se sentindo bonita, ou acordar se sentindo feia. É olhar no espelho e perceber seu olhar para o mundo. Tem dias em que perder o ônibus e ter que fazer o percurso a pé nos faz sorrir e curtir o sol, em que perder a hora, correr, esquecer o lenço, ficar com fome, nada, nada disso importa. E você se pergunta, andando tranquilamente depois de ter sido ignorada pelo motorista do ônibus que você precisava pegar – por quê?
E aí você se lembra que os sentimentos são como o tempo: às vezes,
simplesmente temos que aceitar como nos sentimos, porque não há o que fazer. E
é preciso um guarda-chuva para não sair completamente encharcada de um dia
chuvoso, porque pode ser que chova por dias e dias a fio. Mas, um dia, vai
passar.
Há dias nublados e há dias chuvosos e há dias em que,
simplesmente, o sol sai.

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