Agora que paro para escrever sobre
nós dois, confesso: entrei com pouco nessa história. Há tempos sabia que
fazíamos tudo errado e se continuei insistindo foi por que gostava da nossa
peculiar teimosia. Fomos soberbos e exagerados. Eu no excesso e você no
descaso, e assim perdemos o fio da navalha, cegamos nossos ouvidos com
discursos pífios, repetimos, feito discos riscados, nossos verbos sem sentido.
Quanto texto desperdiçado. O que dissemos nunca se justificou em gestos, para
nenhum dos dois. Pelos meus cálculos, você me queria pela metade, eu não te
queria por inteiro. Tão distintos e apartados, nem percebemos que estávamos do
mesmo lado.
O que eu tinha para dar era quase
nada. Não se entrega um coração em pedaços, esperando que outro coração
bagunçado o possa consertar. Fui ingênua de achar que poderíamos multiplicar
nosso vazio e obter um resultado. Sempre estudei matemática. E entendo bem das
operações mais básicas e percebo que, nós dois somados, resultamos numa
subtração. Na minha equação louca, os gráficos mostraram o rombo no saldo. Se,
nessa história, entrei quase zerada, estou saindo com menos ainda. É que toda
pessoa deixa um pouco de si com o outro, mas você não me deixou nada.
Tentei sugar alguma coisa de ti,
tentei me apropriar de qualquer sopro e quase me contentava em cheirar tua nuca
antes de dormir, apenas para ter uma lembrança singular para a minha memória
fraca, mas você foi tão volátil, que eu não consegui acompanhar teus passos.
Fui intensa na medida do que pude, com o que me sobrava do tempo e das
entranhas, e fiz, do meu gostar, o maior pretexto para te ter. Descobri que
gostar é a menor das variáveis dentro de uma relação. Descobri que o tempo,
essa constante matematicamente fracionada, é quem dita as regras desse jogo
muito íntimo.
Me entreguei às palavras, que me
preenchem tanto quanto os livros que leio, mas elas me foram falhas e eu ainda
duvido se realmente sei escrever em bom português.
Não era amor, não era paixão, não era
destino, acaso nem sorte o que nos uniu. Era pura teimosia das nossas distintas
personalidades. Uma piada da vida para nos fazer perder o tempo. Era o nosso
jogo de não-querer. Era uma vontade visceral de subverter o próprio conforto e
transformar em confronto o que poderia ser bom. Montamos nosso tabuleiro de
jogo com peças distintas e regras invioláveis e a cada jogada eu tinha a
certeza que iria ficar em desvantagem. E fiquei. Por que sou ilógica, intensa,
invertida, insensata.

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